terça-feira, 10 de julho de 2012

Memória e Compromisso - Conclusões do encontro de Santarém 2012


Memória e Compromisso
Conclusões do encontro de Santarém 2012

Introdução

“Levantaram-se, voltaram e contaram
o que tinha acontecido no caminho”
(Lc 24,33.35)


Na celebração dos 40 anos do Encontro de Santarém, nós bispos, representantes de presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas e cristãos leigos e leigas das Igrejas da Amazônia, nos reunimos às margens do Tapajós, na mesma cidade, para dar Graças a Deus por esta caminhada e renovar nosso compromisso profético e missionário de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, para que n’Ele nossos povos tenham vida! Este 10º Encontro se apresenta como um passo significativo na caminhada de 60 anos, desde o 1º Encontro em Manaus (1952) e, iluminado pelos 50 anos do Concílio Vaticano II, lança o olhar para frente, como o profeta que supera o cansaço  e prossegue sua missão (cf. I Rs 19,7).
Louvamos e agradecemos ao Deus da vida porque nestes 40 anos, não obstante nossas fragilidades, nossa Igreja tem anunciado Jesus Cristo ressuscitado, caminho, verdade e vida. Ela tem marcado presença junto ao povo sofrido, sendo muitas vezes a voz dos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, seringueiros e migrantes, nas periferias e em novos ambientes dos centros urbanos animando as comunidades na reivindicação do respeito pela sua história e religiosidade. A vida destes povos, seu modo de viver, sua simplicidade, seu protagonismo, sua fé nos encantam! Não faltou o testemunho de entrega da própria vida até o derramamento de sangue. Este testemunho nos anima, nos encoraja e nos fortalece.
Nossos olhos,  contemplam uma realidade que ainda permanece desafiadora e ameaçadora. O que se apresenta como caos no campo social, político, econômico e cultural é, na verdade, fruto de projetos ambiciosos e bem articulados que querem avançar a qualquer custo, esmagando toda forma de vida que se mostre como empecilho ou resistência. Não temos outra Palavra senão o juízo de Deus sobre todas estas coisas. Queremos continuar respondendo profeticamente aos desafios da nossa história e ser fiéis à missão que nos foi confiada pelo Senhor.
. Sentimos a necessidade de uma conversão pessoal e de nossas estruturas. A transformação libertadora e salvadora da realidade começa com a nossa vida cristã e com a renovação das nossas comunidades.
Neste encontro, emerge com mais clareza a urgência de evangelizar a partir do encontro com Jesus Cristo Verbo encarnado, profeta e missionário do Pai, tendo o Reino como horizonte e de dinamizar e formar comunidades eclesiais vivas, proféticas e missionárias, como as CEB’s e outras formas de vivência comunitária, para que a Igreja “comunidade de comunidades” seja testemunho de comunhão.
“Somos conscientes de que nunca será possível a evangelização sem a ação do Espírito Santo” (EN 74). Ele nos fará conservar na Amazônia a alegria e o entusiasmo para evangelizar, mesmo entre lágrimas e perseguições”. Necessitamos na Amazônia de um novo Pentecostes que nos transforme profundamente.
  Diante dos desafios sociais, políticos e econômicos, culturais, religiosos e eclesiais da realidade amazônica, decidimos fortalecer o compromisso profético de transformação  e reafirmar o projeto de formação inspirado na espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo que convoca a Igreja para uma profunda conversão pastoral (cf. DA 360-365; 170-175).
Nesta caminhada não estamos sozinhos, o Cristo que aponta para Amazônia, arma a sua tenda entre nós (cf Jo 1,14).

01. Quarenta anos do Documento de Santarém: intuições, avanços e esperanças

UMA IGREJA DE ROSTO AMAZÔNICO

Desde 1952 nossos pastores mantêm a “tradição” de se encontrar para analisar e tomar posição em relação à realidade da Amazônia, manifestando espírito de unidade e colegialidade, além da responsabilidade comum diante dos graves problemas da região.
Um dos encontros mais significativos e marcantes dessa caminhada histórica foi o de Santarém, realizado em 1972, que gerou um documento cujas orientações iluminaram a vida e a missão da Igreja regional. Encarnação na realidade e evangelização libertadora foram as diretrizes fundantes de um novo rosto da Igreja que passou a assumir opções marcantes dentro de um contexto de exclusão e marginalização; nessas diretrizes e opções se inscreve uma identificação com a missão salvífica de nosso Senhor Jesus Cristo.
Ao longo desses anos, além de influenciar as decisões das assembleias regionais, a formação dos agentes de pastoral, sobretudo a dos presbíteros e também dos leigos e leigas, alguns acontecimentos receberam de Santarém inspiração ou motivação na sua realização: o Projeto Igrejas-Irmãs, o CIMI  e a CPT, as diversas ações pastorais das dioceses/prelazias, o Congresso Eucarístico de Manaus (1975), o encontro de 1990 sobre Ecologia e rosto da Igreja na Amazônia, a criação da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da CNBB, alguns projetos da CRB,a escolha do tema da Campanha da Fraternidade de 2007 sobre a Amazônia: “Vida e Missão neste chão”.
Após Santarém, outros encontros se realizaram, destacando-se os de Manaus em 1997 e 2007 que expressaram e ratificaram a caminhada feita, aprofundaram e atualizaram suas intuições.
Como fruto da ação do Espírito Santo nesse processo, surge o rosto de uma Igreja amazônica:
·      Uma Igreja solidária-samaritana, caminhando com o povo mais sofrido, especialmente índios, agricultores, ribeirinhos... Bispos, padres, agentes pastorais, religiosas e religiosos fizeram de seu trabalho pastoral-evangelizador anúncio da Boa Nova aos pobres e denúncia das condições de miséria e exclusão social.
·      Uma Igreja ministerial e missionária, favorecendo o protagonismo dos leigos e leigas e investindo mais na formação dos agentes de pastoral locais, com uma intensa participação também da Vida Religiosa consagrada;
·      Uma Igreja cuja expressão maior foram as comunidades eclesiais de base: sua organização e missão nos mais distantes rincões dessa Amazônia tornaram a Igreja mais presente e mais próxima da vida do povo.
·      Uma Igreja irmã da criação: que considera como parte de sua opção fundamental a salvaguarda de toda criação e chama todos os homens e mulheres a cuidarem do Planeta como casa comum.
Na Amazônia a Igreja realizou seu protagonismo de ser comunidade de comunidades a partir     do anúncio da Palavra pela missão descentralizada e testemunhada, o que gerou profecia e martírio.
Não obstante os desafios e limites, a Igreja amazônica vive e cresce com características próprias, enraizada na sabedoria tradicional e na religiosidade popular, fortalecida e ungida pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, que durante muito tempo alimentaram e continuam a manter viva a espiritualidade dos povos das florestas, das águas, das estradas e cidades. Gente que enfrenta com alegria as dificuldades das distâncias e da falta de comunicações, a escassez de recursos e oportunidades, para encontrar-se e oferecer sua participação a fim de que este pedaço de chão seja efetivamente "chão da partilha fraterna, pátria solidária de povos e culturas, casa de muitos irmãos e irmãs. Anúncio de esperança e de paz para os povos da Amazônia e de todo o Brasil".


02. O compromisso profético de transformação que considera os desafios sócio-político-econômicos da realidade amazônica

“Não tenhas medo (...)
Nesta cidade há um povo numeroso que me pertence”
(At 18,9)

Após 40 anos de caminhada como Igreja, seguindo as intuições e orientações do Documento de Santarém (Linhas Prioritárias para a Amazônia) constatamos que,  a realidade da Amazônia, mesmo com alguns avanços, em muitos aspectos não apresenta mudança e sim agravamento, o que indica que o nosso povo continua vítima de uma tirania política e econômica. Antigos e novos problemas afetam a região, deixando à margem e afastados de todos os benefícios que são gerados pelos projetos econômicos, milhares de amazônidas que, expulsos de suas terras ou atraídos pelas promessas ilusórias de uma vida melhor, passam a vagar de cidade em cidade buscando viver com dignidade.

Queremos  ser uma Igreja pobre junto aos pobres, solidária com os excluídos e abandonados da Amazônia, também em momento de enfrentamento. Buscaremos aprofundar de modo sistemático a compreensão das causas e consequências dos mecanismos que geram miséria e exclusão social e estimular a articulação de uma rede de formadores de opinião apoiados pela Comissão Episcopal para a Amazônia para análise da realidade em nível regional e diocesano, além dos assessores locais.

Diante dos desafios abaixo destacados, assumimos compromissos que revelam o rosto solidário, profético e missionário da Igreja frente aos apelos de Deus presentes na vida do nosso povo. :

1.     Defesa de todas as formas de vida – acima de tudo da vida humana - da bio e sócio diversidade e da sustentabilidade a partir das culturas indígenas, quilombolas e ribeirinhas e dos projetos de bem viver de nossos povos.
1.1. Assumir e implantar as comissões em defesa da vida;
1.2. Apoiar alternativas agro-ecológicas e energéticas de produção adaptadas ao bioma,  descentralizadas e diversificadas, que protejam as florestas e os rios;
1.3. Defender o território e o habitat dos povos da Amazônia respeitando a vocação de cada microrregião lutando para garantir a sobrevivência das futuras gerações;

2.     Avanços do agronegócio, da mineração, das hidroelétricas, da nova fronteira agrícola e aumento de conflitos na luta pela terra.
2.1. Denunciar os grandes projetos que estão destruindo as florestas e se apropriando das terras dos povos tradicionais;
2.2. Disponibilizar, através da CNBB, um serviço de informação e orientação prática para que as dioceses e prelazias tenham elementos para enfrentar os grandes projetos e suas consequências;
2.3. Orientar, apoiar e fortalecer a organização das comunidades indígenas, quilombolas, rurais e ribeirinhas na defesa de seus direitos, da sua cultura e de seu território.

3.     O fenômeno da Urbanização, as migrações a formação de novas cidades e o inchaço das grandes cidades, aumento do uso das drogas, do narcotráfico, tráfico de armas e a violência.
3.1. Compreender e enfrentar pastoralmente os desafios da cultura urbana nas situações de migrações, drogas, violência, exploração sexual de crianças e adolescentes, tráfico de pessoas e corrupção;
3.2. Realizar seminários na Amazônia para compreender melhor os mecanismos do narcotráfico;
3.3. Fortalecer e apoiar as iniciativas de ajuda às pessoas dependentes do álcool e das drogas.


4.     Ausência do Estado na aplicação de políticas públicas e garantias de direito, porém, com apoio e incentivo ao grande capital; aumento da corrupção nas instâncias e organismos públicos.
4.1. Lutar contra a corrupção e a impunidade nos setores públicos;
4.2. Incentivar a participação nos conselhos paritários de políticas públicas e formar pessoas para esta atuação, com consciência crítica, coragem e exercendo o profetismo;
4.3. Valorizar as Semanas Sociais Brasileiras;
4.4. Reforçar a formação cristã sócio-transformadora dos agentes de pastoral para o exercício da cidadania fundamentada na Doutrina Social da Igreja;
4.5. Articular as Pastorais Sociais, as Comissões de Justiça e Paz, Cáritas e Centros de Defesa dos Direitos Humanos, CIMI e CPT;
4.6. Fortalecer a Pastoral da Criança;
4.7. Utilizar os meios de comunicação social, como a Rede de Notícias da Amazônia, TV Nazaré, rádio, televisão, internet, escolas católicas, para conscientizar, educar, evangelizar;
4.8. Contribuir para a mudança da mentalidade que considera a Amazônia colônia ou periferia do Brasil;
4.9. Denunciar o Estado quando deixa de exercer seu papel moderador impedindo que os fortes esmaguem os fracos ou, pior ainda, quando também se alia à iniciativa privada para executar projetos que destroem o meio ambiente e não respeitam os direitos dos amazônidas.




03. O Projeto de Formação inspirado na Espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo que arma sua tenda na Amazônia e que convoca a Igreja para assumir os desafios da realidade religiosa e eclesial

. “Levanta-te, desce e vai com eles sem hesitar,
pois fui eu que os mandei” (At 10,25)

Nestes 40 anos, nos identificamos como uma Igreja encarnada, articulada nas inúmeras comunidades cristãs de base. No encontro de Manaus, ao celebrarmos os 25 anos de Santarém (1997), o documento final “A Igreja se faz carne, e arma sua tenda na Amazônia” apresenta, uma profunda e clara consciência de uma Igreja discípula da Palavra, testemunha do diálogo, servidora e defensora da vida, irmã da criação, que se deixa iluminar por algumas perspectivas evangelizadoras: Inculturação, cidadania, formação e anúncio central da Boa Nova! Dez anos depois, no Encontro de 2007, reafirmamos nossa identidade de Igreja discípula missionária, ministerial, que assume a vida do povo, que se articula na paróquia como rede de comunidades e nas comunidades eclesiais de base.
Em meio aos desafios de hoje, inspirados também pela Conferência de Aparecida (2007) e pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2011-2014) e das urgências ali indicadas, destacamos:

1.       Iniciação Cristã à luz da Palavra de Deus e a Catequese de inspiração catecumenal
1.1. Cuidar para que a Palavra de Deus ocupe o lugar central, através da animação bíblica da vida cristã e da ação evangelizadora;
1.2. Educar para interação fé e vida, que possibilite desde o início a conscientização como pressuposto indispensável a libertação;
1.3. Promover a leitura orante da Bíblia;
1.4. Conduzir ao encontro pessoal com Cristo através dos sacramentos, principalmente da Eucaristia;
1.5. Orientar para que vida sacramental se expresse do compromisso social e comunitário do cristão;
1.6.  Envolver a família como corresponsável do processo de iniciação de iniciação cristã.


2.     Comunidades eclesiais vivas missionárias, proféticas e abertas ao diálogo ecumênico e interreligioso como as CEB’s e outras formas de vivência comunitária.
2.1. Formar e dinamizar comunidades e lideranças missionárias numa pedagogia que considere a vida e a realidade das pessoas dando-lhes atenção e acompanhamentos necessários a fim de que abracem com convicção o seguimento a Jesus Cristo, sendo protagonistas da missão;
2.2. “Formar ministérios adequados às necessidades de nossas comunidades, especialmente o ministério do pastoreio de comunidades, exercido por leigos (as) que sejam servos (as) do povo, abertos (as) ao diálogo e ao trabalho em equipe e que, devidamente preparados (as) assumam, em nome da Igreja a direção pastoral de uma comunidade, sendo por ela sustentados (as)” (Doc. Manaus, 1997, nº 47);
2.3. Assumir a Igreja ministerial que acolhe, valoriza e cria espaço para que os dons e carismas se concretizem através dos leigos, religiosos e presbíteros segundo as características da Amazônia;
2.4. Viver o caminho da Igreja Profética que escuta a Voz de Deus na Palavra Sagrada Escrita e nos gritos do povo e proclama a luz de Deus que denuncia erros e injustiças, apontas luzes e esperanças;
2.5. Cultivar a espiritualidade do seguimento a Jesus Cristo que arma sua tenda na Amazônia, fazendo nascer convicções e tornando-as firmes;
2.6. Valorizar as assembléias e conselhos pastorais como espaço de comunhão, participação e compromisso;
2.7. Capacitar as lideranças para visitas continuadas a famílias e comunidades, especialmente as mais distantes;
2.8. Considerar e fortalecer as diferentes comunidades rurais,  ribeirinhas, das estradas, indígenas, quilombolas e das periferias;
2.9.  Incentivar a presença e a ação dos leigos e leigas em todos os ambientes urbanos para que sejam protagonistas da evangelização;
2.10.                 Promover iniciativas ecumênicas por meio de atividades caritativas e sociais;
2.11.                 Ir ao encontro dos católicos afastados e acolher os que retornam de outras igrejas;
2.12.                 Valorizar as devoções populares iluminando-as com a Palavra.

3.     Formação presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas, leigos e leigas para uma Igreja toda ela missionária e ministerial:
3.1. Priorizar e investir em formação permanente (compromisso constante), diversificada (padres, diáconos, leigas/os levando em conta as diferentes atuações do laicato dentro da Igreja e na sociedade), descentralizada e encarnada (a partir da realidade) numa atitude transformadora e libertadora;
3.2. Valorizar e integrar as diferentes experiências de formação dos nossos regionais;
3.3. Aproveitar os recursos tecnológicos, como cursos à distância;
3.4. Fortalecer os centros de formação já existentes (Instituto Pastoral Regional - IPAR, Instituto Regional para a Formação Presbiteral – IRFP, Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino Superior - ITEPES, Faculdade Católica de Rondônia, Centro de Cultura e Formação Cristã –CCFC, Faculdade Diocesana São José – (FADISI);
3.5. Promover o intercâmbio entre Institutos, casas de formação e escolas de lideranças;
3.6. Criar equipes itinerantes de formação;
3.7. Estimular planos de formação integral, processual e inculturada;
3.8. Formar presbíteros despojados, simples que não busquem auto-promoção, que sejam missionários em maior sintonia e contato com as comunidades;
3.9. Formar Diáconos Permanentes considerando as orientações da CNBB;
3.10.                 Criar um Instituto de Pastoral para o Noroeste;
3.11.                 Realizar experiências missionárias com os seminaristas, religiosos e leigos;
3.12.                 Fortalecer as escolas de fé e cidadania, bíblicas e teologicas nas dioceses e prelazias.

4.     Opção pela evangelização da juventude
4.1. Fortalecer as diversas expressões da juventude (grupos, PJs, movimentos);
4.2. Apoiar o setor juventude como articulador da Pastoral Juvenil em nossas dioceses e prelazias;
4.3. Articular a Pastoral Juvenil com Pastoral da Educação e Universitária;
4.4. Preparar pessoas para o acompanhamento dos jovens;
4.5.  Ajudar na formação de professores católicos para o ensino religioso.

5.     Sustentabilidade econômica
5.1. Melhorar e motivar a pastoral do dízimo como instrumento principal de auto-sustentação;
5.2. Assumir a Campanha de Solidariedade e Partilha de todas as Igrejas do Brasil em vista da formação de seminaristas;
5.3. Reforçar as Campanhas de Evangelização, CF e Missionária;


Conclusão
“Eu vos disse estas coisas para que, em mim, tenhais paz.
No mundo tereis aflições, mas tende coragem!
Eu venci o mundo” (Jo 16,33)

Somos uma Igreja encarnada que peregrina na história humana. A partir do nosso chão amazônico renovamos o compromisso de partilhar “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (cf. GS 1). Cada vez mais percebemos a urgência de sermos sinais da novidade evangélica, muitas vezes impelidos a andar na contramão do que convencionalmente é aceito; na rejeição das alianças com qualquer tipo de poder que oprima e comprometa a liberdade dos filhos filhas de Deus. O importante, para nós, é manter a fidelidade no seguimento a Jesus Cristo e ao seu projeto de vida nova.
A profecia nos impele a apresentar a Boa Nova de Jesus como alternativa diante de uma sociedade de consumo. À economia do mercado, dominada pela ganância do capital, respondemos com a busca de uma economia solidária e fraterna. Aos encantos do sucesso e das aparências, respondemos com a simplicidade e a beleza do nosso povo, mistura de indígenas e de migrantes. À tentação de uma religiosidade individualista, alienante e triunfalista, fundada na prosperidade egoísta, respondemos com a proposta das pequenas comunidades e do seguimento de Jesus, no caminho da iniciação cristã, que se expressa também por meio de nossas devoções, procissões, romarias e círios.
As nossas festas religiosas são frutos da ação do Espírito Santo no coração dos pequenos e são alimentadas pela sabedoria popular, pelas tradições seculares e pelo testemunho de tantos irmãos e irmãs que construíram catedrais, igrejas e capelas nas cidades, nas margens dos rios e das estradas, verdadeiros desbravadores e evangelizadores desta imensa Amazônia. Contemplamos a grandeza de Deus que se revela no agir dos pobres.
No caminho de “Santarém”, novamente nos lançamos nas estradas e rios, nas aldeias e quilombos, nos interiores e periferias das cidades desta imensa Amazônia, abraçando a Missão que nos foi confiada, comprometidos com toda a criação e na busca de sermos autênticas comunidades de fé alimentadas pela Palavra e pela Eucaristia. Nesta hora histórica, o nosso coração, às vezes se angustia com tantas dificuldades, aparentemente insuperáveis, que nos desafiam. No entanto, continuamos a ser chamados e enviados como missionários e profetas para alimentar a esperança de um mundo novo “germe e início” aqui na terra (cf. LG 5)  do Reino da santidade e da graça, da verdade e da vida, da justiça, do amor e da paz (cf. prefácio Festa de Cristo Rei). Este, e somente este, é o Reino de Jesus Cristo, “o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8).
Confiamos na proteção de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia. A exemplo dos nossos pastores no Encontro de  Santarém, pedimos: “a mão de Cristo que aponta para nós não nos censure as imperfeições e infidelidades, mas ao contrário, nos anime e nos ampare, nos fortaleça e nos auxilie, apontando as melhores soluções para sermos dignos evangelizadores no momento histórico que vivemos (Doc. Santarém 1972).

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